terça-feira, 29 de abril de 2014

Maria Francisca e a minha mãe

Maria Francisca tem pronúncia alentejana. Carregadíssima. Lembra a minha mãe na idade; nas formas do corpo; no asseio que aparenta; nas queixas.
'Olá, está boa?', pergunto.
'Oh, filha, eu já nunca estou boa...'
A minha mãe responde igual. Maria Francisca esqueceu-se da bengala – nisto não se assemelha à minha mãe, ainda não existe esse objeto no chapeleiro na sua casa de entrada -, volto-me e digo num repente:
'Se esqueceu a bengala é porque não lhe faz assim tanta falta, já pensou nisso?'
'Ah, faz, faz, filha... Mas esqueceu-me, vinha já ao meio da rua quando me lembrou! É que tenho uma dor tão grande nesta perna que já não voltei pra trás...'
A minha mãe chama Maria Francisca à parte mais interessante do corpo feminino, o que assim de repente me faz alcançar mais uma semelhança entre as duas. Esta história acaba aqui.

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