terça-feira, 29 de abril de 2014

Era uma vez

O senhor doutor entra na pastelaria e pede um café. Ponho-me a olhar para ele, descaradamente, gosto de observar as pessoas. É um homem alto, já quarentão, cabelos brancos aqui e ali, feições marcadas e uma arrogância no olhar que não atrai simpatia. Não quer açúcar, não quer colher. O empregado tenta o diálogo:
– Sei que o senhor não põe açúcar...
– … Mas pôs aqui a colher porque há pessoas que não põem açúcar mas gostam de mexer o café. - Atalha o homem, desarmando o empregado.
Perante este cenário fiz-me protagonista duma história que nem era minha nem nada, esmerando-me imensamente, por não sujar a boca com o açúcar de confeiteiro que encima o folhado, ou, no momento em que o abocanhasse, fazer saltar do meio o doce de ovos que se me colaria às bochechas, zangando o senhor doutor com tanta falta de jeito. Não consegui, tanto esmero para quê, que trapalhona, que desengraçada, sujei-me na mesma.

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