segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Términus

Terminei a leitura do livro 'O olhar das mulheres' , Max Gallo.
Gostei do livro mas em dada altura aborreceu-me um pouco e a verdade é que estava desejosa de o acabar de ler.
A história está dividida em duas partes, sendo que uma é a narração sob o ponto de vista dum homem e a segunda sob o da mulher. São casados, com um casamento que se deteriora aos poucos, girando à volta do olhar das mulheres, incidindo levemente, aqui e ali, naquela capacidade que elas têm para serem destemidas e implacáveis.
Curiosamente gostei bem mais da narração masculina que da feminina, muito embora tenha escolhido para publicar um parágrafo da parte feminina.

«Quando i miei occhi su di tè si son fermati sono stata felice.»

Aquele calvário de uma paixão que nos habita e se não cumpre, que desejamos se apague e temos tanto medo que se extingue, vivi isso durante vários meses.
Alguma vez conhecera sentimentos tão intensos? Dizia para comigo: esta é a última oportunidade de amar, depois será a lenta paralisia do egoísmo e da idade, o envelhecimento dentro dos hábitos, a perda deste ímpeto que nos torna capazes das ruturas ou de levantar voo. Depois, será o enterramento cada vez mais profundo de uma só vida, com recordações e mágoas. E, com esse pensamento, a angústia oprimia-me. Metia uma cassete de canções e poemas russos no gravador, enchia a cabeça com aqueles sons ásperos, dilacerantes, com aquela melopeia inflamada, a sua língua materna, depois estendia-me na cama, pegava no seu livro, lia, relia, recitava e achava-me de súbito tão ridícula que jurava curar-me daquela ilusão. Daquela doença, porque Karl nada me dissera. Eu era joguete dos meus desejos, dos meus devaneios.
Não tinha mais que fazer?

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