quarta-feira, 21 de outubro de 2015

O cobertorinho

Está na hora de contar a história do cobertotrinho, a bem dizer estou atrasadíssima. E pensar que a tinha preparada e a perdi. Oh. Vou então reescrevE^-la... ai perdão, reescrevê-la.

É um cobertor cor-de-rosa com duas listas brancas quase às pontas, onde estão umas flores grenás. Este cobertor acompanha-me há cerca de quarenta anos. Olarila. Foi adquirido pela minha mãe numa feira qualquer dos arredores, quiçá Odivelas ou Galinheiras, isso na verdade pouco importa, só por dizer que era porreiro que eu recordasse os factos reais. Na mesma altura a minha mãe comprou também um cobertor em verde seco e outro em grená, com as mesmas listas quase às pontas e as flores. O meu irmão ficou com esses dois, não por ser o preferido da progenitora e por isso tivesse direito a mais cobertores que eu, nada disso, é que calhou assim, talvez devido a uma escolha de cores, sei lá, o cor-de-rosa seria para a menina, as outras cores, supostamente menos femininas, seriam para o menino.
Este cobertor tem-me então acompanhado nos últimos quarenta anos, sem apelo mas com agravo, que na verdade não se manifesta, nunca o ouvi falar, mas está puído que se farta. Mas voltando ao acompanhamento do cobertorinho. Casei. Trouxe-o comigo, este e um outro, também meu, mas de bebé. Ficaram anos guardados numa gaveta funda, numa arca ou numa caixa grande, era conforme. Nunca me deu na cabeça colocá-los na cama de nenhum dos ricos filhos, até porque a criançada sempre teve a cama bem servida de cobertores, mal seria necessitarem dos meus, já tão vividos e ralos pelas lavagens. Há uns anos deu-me para ir buscar o protagonista deste post, o cobertorinho cor-de-rosa. Eh pá, pronto, a idade avança, o frio é maior, eu cá acho, e sabia-me bem ter um agasalho a mais se estava no sofá ou sentada frente ao computador. Há anos que passo os meses mais frios com o cobertor de arrasto pela casa, caso não ande a limpá-la ou então a cozinhar, claro, largando-o somente a meio da primavera, todo o verão e início do outono. Contudo, este verão não cheguei a largá-lo, não consegui, não sei se sou eu que cada vez estou mais friorenta, se este verão foi realmente menos quente que os anteriores, o certo é que não cheguei a arrecadar o cobertorinho. Nas noites mais frias, que as houve, oh se houve, ficava por cima da roupa de cama, a agasalhar somente a minha pessoa, que o homem é calorento, e nas noites mais quentes, passou-o junto à minha cabeça, assim todo encarquilhado, e era como uma companhia que eu tinha ali, sei lá, a presença do cobertorinho, mesmo que não me tocando em parte alguma do corpo, faz-me companhia, dá calor, parece um abraço bom, um afago sentido. Agora estamos no outono, o tempo já arrefeceu, há semanas que o coloco por cima da roupa de cama, como já referi, mas chegando o inverno e o frio ficar maior e mais presente, hei-de andar com ele de arrasto pela casa, para não diferir dos anos anteriores.

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