Hoje é dia do polvo
mas isso não me interessa para nada. Ou interessa-me um pouquinho, vá. Não sei contar lá muito bem esta história mas vou direita ao que sei e pronto. No seu local de trabalho, a rica filha um dia encontrou um pedacinho de metal que enrolou numa forma esquisita e decidiu chamar-lhe plovo... ai perdão, polvo. O pedacinho de metal lá foi ficando, algures, não sei onde, por ali, na sua secretária, presumo. De vez em quando ela ia apresentando o 'bicho' aos colegas, uns achavam muita graça mas outros nem por isso. Tipo assim: 'ah, Ana Cláudia, és uma pessoa tão engraçada!', ou: 'eh pá, és uma tipa um bocado estranha, não és?' Pronto, mais ou menos isto. Vai daí, um dia souberam no espaço que a chefia maior de todas ia fazer-lhes uma visita para ver como estavam e andavam as coisas. A rica filha achou melhor trazer o bicho para casa, ainda a mandavam embora por conta de tamanha infantilidade. Agora para ali anda, o bicho inerte, esse pedaço de metal chamado polvo, digitei bem, que alívio, enroladinho sobre si, em cima do pequeno móvel que está na entrada lá em casa, junto a uma libelinha e uma mosca feitas num meltal... ai perdão, metal prateado e cravado de brilhantes sem valor, uma jarra desengraçada onde enfiei uns ramos avermelhados que colhi à noite num dos passeios com a cadela e uma quantidade de coletâneas em que participei, numas com mais gosto que noutras. Às vezes a rica filha vai lá buscar o bicho e a gente convive e ri-se muito.
Hoje é dia das pessoas que usam óculos
e isso interessa-me muito. Ou o suficente para me pôr para aqui a falar e a falar e a falar. Uso óculos desde os dezoito anos. Mentira. Possuo óculos desde os dezoito anos. Sei lá, era costureira, chegava ao fim do dia cansadíssima dos olhos, sentia picos nas órbitas e onde era para ser branco estava vermelhão, vai daí, pumba, coiso, óculos. Eram bonitos, brancos assim como que translúcidos, a graduação era mínima, pronto, era mesmo só para não me cansar tanto com o esforço de olhar para as coisinhas pequeninas que as costureiras têm de fixar. Bom, resultado: quase nunca usava os óculos. Sério. Um dia deixei a costura. Um dia vim para o balcão. Um dia o computador chegou ao estaminé. Um dia achei que era hora, sim senhores, vamos lá ver isto dos olhos como é que está e coiso, que o pc é do caraças para os estragar. Fui. Pumba, lentes novas, afinal tinha passado uma dúzia de anos, armação nova, que a anterior, à época, era horrível e afinal eu já não tinha dezoito anos. Vai daí: óculos novos. Óculos novos esses que... Raramente usei no estaminé. Pronto, eh pá, preguiça e um certo embaraço, tudo à mistura. E veio o blogue. Com o blogue veio esta coisa de escrever tudo o que quero. Veio também a possibilidade de poder escrever o que quero. A palavra 'possibilidade' é muito importante na minha vida de bloguer, nem toda a gente que gosta de escrever pode fazê-lo durante tanto tempo como eu. Eu posso. Isso de escrever significava, e significa, que passava, e passo, montes de tempo a olhar para um ecrã branco. Comecei a ficar extremamente cansada dos olhos. Mesmo reduzindo o brilho, mesmo aumentando o tamanho da letra, mesmo a negrito. Durante anos usava os segundos óculos em casa, para ver tv ou estar no pc, mas nunca no estaminé. Bom, havia passado cerca duma dezena de anos, estava na hora de. Fui. Óculos novos. Tudo novo. O olho esquerdo é um querido, não tem lá muita graduação, o olho direito é ruim pra caraças, tem mais graduação. Sou um bocado desfasada no olhar, vá. Foi-me prescrito um par de lentes que dessem para ver ao perto e a média distância, pensados em casos como o meu, de balcão, para não ter de estar sempre a tirar os óculos de cada vez que quero ler um rótulo ou a passar uma fatura e no entretanto ter de falar com o cliente e evidentemente ter de olhar para ele e vê-lo turvo. Gosta de cores, perguntou a senhora do oculista aquando da escolha da armação. Disse vivamente que sim. Experimentei uma série de armações mas fiquei logo embeiçada por umas em vermelho. Pronto, estava escolhido. Isto foi há cerca de quatro anos. No início deste ano comecei a sentir um cansaço semelhante ao que sentia antes. Assim de repente achei que estava na hora de mudar de lentes. Fui. Efetivamente estava, só por dizer que as armações continuaram as mesmas, não valia a pena mudar. Mas custou pra caraças a habituar-me às lentes. Credo. Hoje estou bem, para tal tive de levantar o monitor, pôr para aqui umas coisas a fazer altura, nem vou dizer em cima de que tipo de coisa está este monitor. Mas pronto, vá, os meus óculos são lindos e ficam-me bem que se farta. Lá para dois mil e dezanove ou vinte, voltarei à carga.
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