quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Consultório

Há um cesto com cebolinho artificial, despontam até flores dali, mas é tudo artificial, já disse. São bolas com flores miúdas, umas em branco, outras em roxo. Está bem-feito, sim senhores, que quando nos campos o cebolinho deita umas flores assim, lindas.
Já tenho dois tratamentos com agulhas no bucho. Tinha começado tão bem, com o cebolinho e tal, não é. É. É que nem é no bucho que o senhor doutor me espeta as agulhinhas, nem nada, ora essa, é no outro lado. Por exemplo, se o bucho é, fosse, o Polo Norte, o outro lado é, era, o Polo Sul. Bom, aquilo custa um bocadinho porque já de si, e ainda longe dos espetanços, me dói o polo, e vai daí o senhor doutor tem de mexer no dói-dói, recolocando-me os ossos no devido lugar, o que me deixa perdida com dores. A verdade, a cru, é que saio do consultório ainda mais doente. Depois há outros males e outros bens. Os bens. Então, os bens é ver o chão e os pés do senhor doutor em movimento e de certo modo distrair-me com aquilo. Os males. Então, os males é ser agraciada com esta perspetiva porque durante o tratamento me forço a manter os cornos enfiados num buraco que a maca tem. Ter os cornos enfiados nalgum lugar pode significar que de lá não saem sem que doa. É que para desenfiá-los... Ai. Então acontece que saio de lá com duas dores, uma no lombo, outra nos cornos.

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