quinta-feira, 30 de julho de 2015

Blás

Nunca tinha estado num lugar para fazer quatro exames duma assentada. Estou tão doent... Não estou nada. Mas não me sinto bem, lá isso não. E não quero estar doente, pronto, a verdade é essa, não me deixo estar doente do corpo, luto afincadamente contra essa ideia. No outro dia disse que às dores e às tristezas e às confusões da cabeça já eu estou habituada, mas nada de nada às do corpo, não é. É. Então é isso.

Aqui há um quadro a fazer as fêmeas parecerem fêmeas sensuais. Há uma certa lógica nisto: a gente não é mulher, mais mulher, do que num consultório de ginecologia. Somos mulher-concepção-vida, ok, vá, tudo bem, mas antes disso fomos mulher-atrativa-sexo. Há uma dose enorme de sensualidade nesta paleta, daí se pintarem belos quadros com tons tão díspares. Quem quiser há-de vê-la, a sensualidade.

Agora estou de costas para o quadro sensual, mas há pouco não. Vou descrever o que recordo no pouco tempo em que o mirei. É o desenho duma mulher nua, contornos que se esfumam em tons de castanho até ao centro da boneca.
Que faz um homem sentado na sala, pá?! Só agora me dei conta que o pobre destoa tanto. Virá fazer uma ecografia endocavitária...? Tem mais ou menos a minha idade e tem um ar tão perdido e resignado como o meu. Quero dizer: presumivelmente, que eu não me estou a ver, não é. É.
Mas o quadro...
Amadeu, o nome do pobre. Ah, ok, aqui o espaço tem lugar também para r-x. Hum.
Mas o quadro. Então, o quadro tem a figura distorcida, a cor, nos contornos bem fixa, esbate-se até ao centro. De notar que ainda estou de costas. Já o quadro que tenho na frente é aquele que diz por meio de sinais que é proibido fumar, e por baixo diz em letras 'mantenha o silêncio, por favor'. A mania que esta malta de bata branca tem de mandar a gente calar-se, pá.

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