terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Quês

Preâmbulo
«Estive lá, eu e outros que dizem que estiveram. Descrever tudo. Ao pormenor.»

Estive no Atrium Saldanha, das treze e quarenta às catorze e quinze. A maioria das pessoas que diz que lá vai, aquando deste horário, vai almoçar. Eu não. Entrei e dirigi-me imediatamente ao wc. Despi o casaco e duas das camisolas porque o lugar é quente que se farta. Fiz chichi sem me sentar na sanita, que isto de andar no ginásio promove o equilíbrio e a força em certas partes do corpo, incidindo eu aqui nos membros inferiores, não sei se estava a dar para perceber. Quando escrevo sou responsável pelo que dou a perceber, não sendo no entanto responsável pela perceção dos leitores. Esbarrei algures, agora, não se percebe nada. Gostava de ser isso do paradoxal e/mas entendível, imagino que seja uma cena fixe pra caraças, mas não sei se chego a tanto. Vi a minha imagem refletida naquela parte metálica onde a gente apoia a mão ao depois de a urina escorrer, não quero falar de cócós, agora, o autoclismo, é o que quero dizer quando refiro parte metálica, mas não comento a imagem mais que isto, em ânsias de pedir que a peçam. Não e não, tudo não, oh. Depois disso coiso e tal e mais não sei o quê. Enfiei o casaco e tratei de enfiar, também enfiar, pois, uma das camisolas, a mais fina, dentro da mala, para fazer companhia ao cachecol e às luvas que nem era preciso trazer. Saí porta fora. Ah... Horas: treze e cinquenta e quatro. Sento-me num banco de mármore. Este é de mármore, às vezes sento-me num de pedra, mas noutro lugar da cidade. Faço anotações no meu bloquinho rudimentar. Não faço as anotações, algumas delas, no livrinho azul porque não me lembro que existe tal objeto na minha mala. Mala. Aqui há tempos percebi que não se diz mala, mas carteira. Ora. Do casal com alguma idade ao meu lado, a parte fêmea dá por mim mas a parte macho nem por isso. Horas: treze e cinquenta e sete. Levanto-me. Boa tarde, Gina Guê, tudo bem com você? Se isto fosse um texto ouvido ia ouvir-se a pronúncia brasileira da moça, assim não. Está tudo bem, e consigo? Em se ouvindo, lá está, eu era com pronúncia portuguesa que se ouvia porque sou portuguesa. Hum, La Palisse anda aqui. Relacionámo-nos então de outra maneira, eu tensa, ela não. Do calor. Do frio. Do verão que vem aí. Do quanto o desejamos. Das camisolas que tirei. Mão em cima e em baixo. Faz assim, oh. Gel fresco nas partes mexidas. Blás. Adeus. Saí para a rua. Ah... Eu estive lá, hoje, das treze e quarenta às catorze e quinze. Quero eu dizer no Atrium Saldanha, em Lisboa. Depois percorri as ruas até aqui, cruzando-me com pessoas que gostam muito de mim porque não me conhecem.

Sem comentários:

Enviar um comentário