quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Presenças

A dona Adelina e a dona Maria estão aqui à porta a falar de casas alheias. Claro que falar da casa dos outros é tão melhor. Mas na verdade falam de casas vazias para alugar. A dona Maria quer saber se a dona Adelina sabe de alguma casinha para alugar, portanto uma casinha para alugar está obviamente vazia. Vazia de pertences. Vazia de pessoas. Gosto da ideia de uma casa vazia, como gosto da ideia de um papel branco, onde vou poder escrever. A partir daí é só acrescentar, e o vazio preenche-se. É semelhante também a um legume sensaborão, tipo nabo ou assim. Um nabo cozido no ponto e bem temperado é saboroso que se farta. Então, vá, vamos lá: que não se desdenhe do esvaziamento da alma de ninguém. Alma...? Pois. Uma alma vazia é... Uma esponja. Líquidos bons e belos, por favor, e a vida compõe-se.

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