quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Dias de uma arguida

Estava a precisar de um calorzinho destes...
Diz ele num suspiro murmurante.
Calorzinho? Esse calorzinho é a minha presença, senhor agente...?
Pensei eu. Pensei.

Bom, eu costumo dizer que, dentre outras coisas, as mulheres servem para embelezar o mundo, portanto nas outras coisas está um desejado calorzinho num dia extremamente frio. Grande piropo, senhor agente. Obrigada. Ressalvo que o agradecimento não tem de todo parte com a minha habitual ironia.

Na primeira vez fui ver dos documentos apreendidos. Quero dizer: fui tentar sacá-los mas infelizmente ainda não tinham chegado do outro lado para onde haviam seguido no dia dê.
Disse ao senhor agente ao que ia, estendi-lhe a papelada que ele observou rapidamente, levantou-se e disse:
Eu venho já ter consigo.
Foi com os meus papéis na mão lá para dentro e pouco depois volta com os meus papéis na mão.
Ah e tal tem um nome invulgar e eu até tenho ali duas Ginas no arquivo mas nenhuma delas é a senhora.
Disse o agente aquecido. Senhor agente.
Ficou de me ligar caso os meus documentos viessem durante a manhã no carro do estafeta. Só me ligava se os documentos viessem nessa manhã. Repito: só me ligava se os meus documentos viessem nessa manhã.
Ligou-me.
Olhe lá minha senhora, eu disse que só lhe ligava se os seus documentos chegassem mas não tenho boas notícias para si...
O meu coração parou abruptamente.
Querem ver que afinal no dia dê enganaram-se e me vão acrescentar dezenas ou centenas à coima...
Pensei eu toda aflita. Afinal não era nada de especial, era que os meus documentos não tinham chegado no carro do estafeta. Repito: os meus documentos não tinham chegado no carro do estafeta e tinha ficado combinado que o senhor agente não ligaria caso a vida corresse assim.
Ah, obrigada, bom fim de semana.
Obrigado, igualmente para a senhora.
Nota de entremeio: o texto acima foi escrito há semanas. Entretanto deixei-o a repousar, esperando o próximo capítulo.
Na segunda vez fui ao mesmo. Quando entrei no espaço vi muita gente à espera, o que não acontecera da última vez. Todavia lá estava o agente a distribuir senhas, a responder a questiúnculas do público que lhe aparecia, a atender o telefone assim: 'secção de contra-ordenações, bom dia, faz favor de dizer.' Contra-ordenação, é tão feio é o nome do que fiz, oh céus. Por fim a minha senha - á; zero; catorze, como o ano em que estávamos – apareceu no ecrã. Quando entrei dei de caras com o mesmo agente, o que achei curioso, podia ter-me calhado outro qualquer que por ventura estivesse precisado de um calorzinho... Mas não. Um ou dois minutos depois de me sentar frente ao senhor agente, eis que falta a luz no geral, foi tudo abaixo. Conclusão: eu contendo com aquele lugar, termicamente falando. Olarila. Era por causa dos aquecedores, concluíram quase todos os senhores agentes que estavam a atender
Nota final: este segundo capítulo aconteceu há tantos dias que inclusive o ano é agora diferente. Entretanto, cá por coisas, não pude escrevê-lo, indo somente hoje para o ar.

Sem comentários:

Enviar um comentário