sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A escritora

Preâmbulo
De notar que uma escritora, na situação vocal, não usa a expressão 'sem querer', antes articula 'inadvertidamente' sem desarmar a pose. É assim que sobe a sua consideração.

Formulei mal uma frase qualquer e ele brincou dizendo 'ah e tal tu é que és a escritora e falas assim não tens vergonha e mais não sei o quê'.
Ah sou escritora, sou? Tu achas que eu sou uma escritora? Achas?
Deixei descair o carro e pus-nos a par com um pedaço de parede onde está pintada uma frase.
Olha ali, vês aquela frase?
Sim.
Fui eu que escrevi.
Foste tu?!
Fui.
Foste tu que escreveste 'racha, ou vai...'?! Foste tu...? Inventaste aquilo?
Fui eu, pois. Não reconheces a minha letra?
Não. Mas estás a falar a sério...?
Sim.
E onde é que arranjaste a tinta?



De seguida contarei sucintamente a história da escrita na parede.
Há uns tempos, julgo que por volta da primavera passada olhei para aquela parede e notando uma racha formou-se na minha cabeça a frase que agora se lê. Andei com a ideia semanas, meses, esperando a oportunidade de a pintar na parede, apontando inclusive a dita frase nos meus rascunhos por modo a não esquecê-la. Digo a frase e digo a seta apontando para cima, andei de roda dos tipos de letra que o pc tem para rascunhar a ideia com exatidão. Chegou o verão, chegou agosto, tempo de férias para metade do país, daí que o movimento tenha abrandado consideravelmente naquela zona. A obra de arte propriamente dita foi criada em duas etapas, creio até que com um intervalo de alguns dias entre elas: primeiro a seta, a 'racha' e as reticências; segundo 'ou vai' e o ponto de exclamação. O motivo de não ter concluído a obra de uma só vez foi o receio imenso de que aparecesse alguém, não queria que me vissem a escrever.

1 comentário:

  1. E assim se começa na arte dos grafites!
    Agora é só continuar.

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