sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Segundo

Logo de manhã, no elevador, a vizinha do penúltimo andar, notando o arsenal de motard que eu trazia nas mãos, disse assim:
Ah, agora é uma heroína! Não tem medo?
Respondi que não, mas depois, refletindo um pouco, reformulei a resposta:
Bem, às vezes tenho um bocadinho.
Ela sorriu e desenrolou uma história:
Sabe, as motas estão para a minha família como o aviões estão para os Kennedy. A minha mãe pedia-me tanto para eu não andar de mota... Um dia, era eu miúda, no tempo em que tínhamos uma casa de férias em Palhais, eu tinha um amigo que me estava sempre a convidar. Tanto me convidou que uma vez fui com ele... Mas pouco depois senti qualquer coisa esquisita e disse-lhe 'para, para!'. Saí de cima da mota e olhe... Ele morreu a seguir, quando ia a subir para Guerreiros.

Salva, esta senhora, por algo transcendente. E nunca se sabe explicar estas coisas... Mas eu não vou morrer de acidente de mota, nada disso.

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