terça-feira, 28 de outubro de 2014

Teve 1

Perguntou-me se tive um esgotamento – teve, não teve? - e fiquei sem resposta, não estou habituada a falar do assunto. Balbuciei um 'sim', devo ter posto um dos sorrisos mais amarelos de sempre e preparei-me para tudo... Mas não era preciso tanta armadura, a pessoa só queria ser solidária, também sofreu em tempos com um caso do género.

Ah...

Bom, custa-me falar do assunto porque me sinto algo embaraçada com a questão, aparentemente é chato ouvir lamúrias que facilmente se comparam às de quem me ouve, se estou triste, o ouvinte terá uma vida consideravelmente pior, se estou aborrecida, o ouvinte não vê motivo nenhum para isso porque a minha vida é fantástica, o marido e os filhos são um espetáculo de pessoas, tenho uma linda casa e o meu emprego é uma pérola deveras cobiçada. Mas há mais coisinhas: esta doença não é 'bonita', as dores não são físicas, não me apresento coxa ou com um braço ao peito, não tenho pensos na cabeça a cobrir pontos de coseduras de pele, não vim do hospital, não fiz análises cujo resultado revelassem valores assustadores, nenhum exame médico diz que tenho uma doença terminal, nenhum r-x atesta grandes e dolorosos males.
Posto isto, pumba, estou doente, tenho a cabeça esgotada porque não me é dado o direito à infelicidade, e como não tenho esse direito esforcei-me até à exaustão para me acomodar com a vida (muito feliz) que (parece que afinal de contas) tenho.

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