sexta-feira, 3 de outubro de 2014

½ horita

Chega uma cliente e diz que está presa na rua, que foi estender a roupa, e que foi estender a roupa porque estava em casa, e que estava em casa porque estava doente, e que a roupa é estendida nas traseiras e fez corrente de ar porque abriu duas portas e fecharam-se as duas portas e agora o que é que faz, vem com esta amiga que lhe disse que a gente aqui trata destas coisas. Pois que fez muito bem, sim senhoras, mostro uma simpatia e uma competência extraordinárias e encaminho-as para o meu colega, que dada a urgência fecha a loja dele para socorrer a prezada senhora, levando a amiga de arrasto, por assim dizer. O meu colega sai. Saem todos. Fico sozinha dois ou três minutos e eis que chega um cavalheiro que está preso na rua e que tem lá o homem do não sei o quê à porta e que é para fazer uma coisa qualquer dentro de casa e se ele se vai embora tem de pagar duas deslocações. Ao homem do não sei quê que quer fazer uma coisa qualquer dentro de casa, não ao meu colega, que não está por ter ido meter a tal dama na cama porque está doente e foi estender a roupa e as portas com o vento fecharam-se e assim obviamente não se mostra disponível para este cavalheiro. Enquanto o acalmo, acho que é acalmar pessoas o que muitas vezes faço, entra um senhor que quer uma chave de pontos. Uma chave desse gabarito leva mais tempo a executar e além disso é feita num lugar escondido, convém-me que esteja mais alguém dentro do balcão. Mas não está cá ninguém. Peço encarecidamente ao senhor que ma deixe ficar durante duas ou três horas, enquanto vou anotando a morada do cavalheiro anterior. O senhor da chave diz que assim não pode entrar em casa, pois claro, mas lembra-se que pode muito bem ir até lá, abrir a porta, deixá-la aberta, e vir-me trazer a chave, porque mora perto. Eu faço um ar espantado, creio, digo que isso não é grande solução, mas ele não desiste da ideia e sai, recomendando que eu o espere, eu que o espere, eu que o espere. Pelo meio de tudo isto já se encontra outro cliente que quer buchas... As buchas, sejam lá de que gabarito forem, são vendidas na loja do meu colega. Que saiu. Pois. Eu dava o jeito, 'migo, mas é que disse àquele cavalheiro que esperava por ele, agora não posso sair daqui mas se esperar um bocadinho... Não esperou. O senhor da chave regressou e abalou. Fiquei sozinha. Fui fazer a chave, um olho nas perfurações, outro na porta de entrada.
Fim.

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