segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Autorretrato

Ontem, por causa do autorretrato, lembrei-me de um texto que em tempos escrevi. Deixo-o, sem o alterar, o que pra ser sincera me custa que se farta. Mas pronto.

"Era melhor ser absolutamente honesta e sincera para avaliar o que estava à vista e olhou para o espelho com olhos de ver. Não era mau, era diferente. Os últimos anos tinham sido cheios de emoções intensas, na maioria contraditórias ou enigmáticas. Isso fê-la crescer emocionalmente e a sua cara transparecia uma fadiga que dificilmente desapareceria. Os olhos continuavam grandes e castanhos, com pestanas compridas. Apenas estavam ligeiramente mais encovados e as olheiras, que sempre tivera, estavam mais escuras. Virou a cabeça e viu que as faces outrora rechonchudas agora faziam uma cova para dentro. Ela sabia que nos últimos meses emagrecera um pouco embora não fizesse ideia do motivo. E também sabia que as emoções e as experiências pelas quais passara tinham essa função, a função de a fazer parecer mais velha. Se calhar o motivo das faces ossudas era esse. Sim, devia ser isso.
Mirou-se de novo mas desta vez positivamente. Tinha feições regulares e agradáveis, positivamente era assim que se via. Sorriu, custava-lhe pensar que era bonita mas sabia que era. Possuía uma beleza daquelas em que ninguém repara, sem esplendor. Tão subtil como a sua personalidade. Reparou que deixara de sorrir e sorriu de novo, os olhos grandes adquiriram brilho e as feições suavizaram-se. Pensou que essa subtileza era a característica que mais gostava de possuir e que mais prazer lhe dava desenvolver. No entanto, havia um senão, ninguém valorizava, ou julgava, ou supunha. Parecia-lhe sempre que aquilo não servia para nada por ninguém se aperceber nunca de coisa nenhuma do que ela fazia ou dizia. Mas hoje sentia que era diferente. Hoje dava jeito. Havia dias assim." |escrito a 5 de dezembro de 2007|

Sem comentários:

Enviar um comentário