quinta-feira, 19 de junho de 2014

As letras

Sexta-feira vezes dois 
 Algodonales; 13 de junho de 2014; oito e tal da manhã
Ó Luís...! Fazes anos, parabéns!
Pois é... Obrigado, linda.
Andamos na estrada, a caminho de casa, a gente tem a mania de desviar um pouco das rotas comuns, chegando inclusive a desviar mesmo muito. Já conhecemos Algodonales doutros anos, doutras viagens, mas gostamos tanto da vila que voltamos.
Estou sentada numa pastelaria para tomar o pequeno-almoço, pedi café con leche e molletes |molletes ou bolletes, não sei se percebi bem, é questão de pesquisar|, ou melhor: não fiz pedido nenhum, aceitei a sugestão da empregada de mesa, este é o típico pequeno almoço daqui.
… É molletes.
O mollete consiste em enormes fatias de pão pouco torrado, onde se esfrega meio alho cru, despeja fios de azeite a gosto e espalha tomate espapaçado. Rejeitei o tomate, fez-me impressão o aspeto daquilo, é cru e natural, desfeito com a trituradora, o que lhe confere um ar espumoso e ademais não tem grande sabor. Hum, não, deixa lá isso, 'miga, o pão, o alho e o azeite, tudo bem, agora esse tomate com ar de vómito não. Devo ainda dizer que neste estabelecimento todas as mesas contêm um prato com uma garrafa de litro de azeite e três ou quatro dentes de alho. É um bocado estranho mas pronto, para os locais é vulgar.
Aracena; 11:41
Ó Luís! Finalmente vais visitar as grutas... Vamos, tu e eu.
Olha, não vais poder tirar fotografias, avisas tu.
Hum-hum, pois, já vi o placar e já lamentei interiormente..., digo eu.
«Donde el vino entra,
La verdad sale.»
Escrito num azulejo, num café-bar onde estou.
A não esquecer: estrada 375 |carretera 375| é ladeada durante quilómetros e quilómetros de girassóis e girassóis e mais girassóis. É uma paisagem linda, não é nada mais do mesmo, nem pensar, nunca tinha estado neste lugar nesta altura do ano, por isso é diferente.
Aracena; ainda; 14:50
Gruta de las Maravillas, é como se chama o local onde estive soterrada durante aproximadamente uma hora e em conjunto visitei o Museu de lo Jamon, onde houve inclusive degustação de duas pequenas fatias do pitéu. Ao que parece nada há de mais pitoresco por estas bandas que o presunto ibérico. Seja.
As grutas: estalactites são aqueles cones irregulares feitos de calcário que pendem do teto das grutas, estalagmites são aqueles cones irregulares feitos de calcário que sobem do solo das grutas, assim que os cones se unem, processo que dura eventualmente milhares de anos chama-se colunas. Adeus estalactites e adeus estalagmites, olá colunas, bem-vindas.
Há formações variadas, entretive-me a fazer comparações: olha isto parece canudos de cabelos, olha isto parece roupas ao vento, olha isto parece corais, olha isto parece grãos de comer, olha isto parece dobras de tecidos pendurados, olha isto parece estátuas gregas, olha isto parece olha isto parece olha isto parece. Olha... Isto aqui... Parece pénis pendurados numa parede. Aos montes. Que quimera. Para algu(ns)mas, claro.
Bem.
O senhor deste restaurante |ainda não tinha dito que estou num restaurante, vim almoçar e coiso| safa-se bem com o português, diz leite-creme ao invés de natillas. No fim pedi-lhe um café à portuguesa: corto e fuerte, por favor. Ele sorriu, somente, compreendo que fui tão direta que não haja nada a acrescentar. Pois.
Próxima paragem: Albernoa, por modo a visitar os meus pais. Olá olá, beijinho beijinho, então filha como estão todos e os miúdos e o cão. Há um pessegueiro no quintal carregado de pêssegos minúsculos, trouxe para aí duas dúzias, todos juntos não devem chegar ao quilo, são tanto de polpa como de caroço mas a dita polpa é muito gostosa, o caroço não sei.
Próxima paragem: Loures, casa. Ricos filhos e cão todos contentes e cheios de saudades, se bem que o cão reagisse mais efusivamente...
Loures; 6 de junho de 2014; 5 e 27 da madrugada
Saída, quilometragem a zero no painel do carro. Anda lá boguinhas, tens centenas de quilómetros para percorrer com a gente a cavalo em ti.
7:00
Pus-me atenta à Radio, queria certificar-me se os locutores começam efetivamente a trabalhar tão cedo, se não põem músicas a fazer tempo e aparecem às sete e picos. Mas não. Pontualíssimos. Bom-dia, 'migos do meu costume! Só por dizer que estou de férias...
7:50
Dia de (disseram na Radio):
Dia da Logística (e eu que desamparei a loja ontem)
Dia de Jogar Tetris (parece que foi inventada em 1984)
Dia da Suécia (?!)
Dia do nome Gustavo (letra Guê, ah ah)
Las Chapas; 21:14
Chegada. Las Chapas significa que cheguei. Já almocei, já vi a praia, já arrumei as tralhas no roupeiro e nas gavetas, já me introduzi no Mediterrâneo, já de lá saí e ainda é de dia. Esta massa líquida é fantástica, não custa nada a entrar por não ser demasiado fria e a ondulação de austera não tem nada. Para mim é mimalho.
A praia parece mais limpa que noutros anos, talvez por estes ainda serem os primeiros dias de junho, o verão sequer começou, portanto ainda ninguém sujou o areal e/ou as imediações. Mas isto é só uma ideia.

Sábado uma vez e outra 
 Loures; 14 de junho de 2014; 16:33
Catorze; dois mil e catorze; ah ah.
Ora bem, hoje é que já cá estou. Que doçura de lar tenho eu.
É estranho a língua que se fala aqui ser a minha. A TV é a minha e nela falam português. Estou a viver uma espécie de ressaca. Estou a ambientar-me à lida da casa. Oh céus. Roupa. Roupa. Roupa. Ainda bem que está esta caloraça toda, assim dou conta do cesto de roupa suja em dois dias.
Desfiz as malas e arrumei tudo. E fiz o bolo. Os ricos filhos ficaram malucos, mãe, que saudades, oh que saudades.
Espólio das tretas, mais precisamente dos recuerdos:
»duas pedras recolhidas na praia, uma com recortes feitos pela Natureza, auxiliada pelo correr dos anos, e que parecem dois acentos circunflexos lado a lado ^^; outra que parece um cérebro, ou uma couve-flor, ou uma nuvem densa
»estames de açafrão, avermelhados, o que significa estames de açafrão, literalmente, não aquele pó amarelo que a gente encontra facilmente no supermercado |quero ver se finalmente faço o bolo de pêssegos e estames de açafrão|
»paté de castanhas com presunto ibérico
»uma boneca sevilhana ao estilo Betty Boop, vestido às bolas |sevilhana|, grande par de mamas e isso assim |Betty Boop|, tem um arame que lhe sai das costas o qual termina com uma mola para prender uma foto ou uma mensagem escrita ou o que eu quiser
»marron glacé, oh céus...
»dedal alusivo à cidade de Mijas, cidade ou vila, sei lá...
»guarda-joias prateado com contas de várias cores
Las Chapas; 7 de junho de 2014;17:23
Piscina. Ah.
Não está cá muita gente, se pensar que hoje é sábado.
Já mergulhei neste lago artificial e azul que molha até aos ossos se a gente não sai de dentro d' água pouco depois de entrar. Não está frio, ou se calhar até está.
Estava para aqui a pensar no melhor modo de fazer a apresentação destas férias no blogue... Acho que vou escolher as fotos e as publico somente na segunda-feira,16 de junho, à noitinha. Depois vou escrevendo e publicando, intervalando estes relatos com os escritos dos dias em que já estiver a trabalhar, sempre intitulando Férias1; Férias 2; e 3; e 4; e etecetera. Se calhar o melhor é chamar Férias 0 ao primeiro post, no sentido de fazer uma espécie de introdução ao tema, género: ah e tal vou falar das férias pois desta vez não tive férias depois das férias, vim logo trabalhar... Grande confusão. É melhor aquietar-me. Estacar. Esquecer.
Ora bem.
Também estava a pensar, enquanto repousava o corpo na toalha, com a toalha em cima do relvado, com o relvado em cima da terra, com a terra... Pronto, estava a pensar e a deixar enxugar os pingos de água que cheiram muito a cloro por causa das presumíveis infeções e isso assim, em como a minha cabeça se esvazia lentamente de tudo o que a povoa aquando da permanência na vida 'normal' e portanto não tenho tantas coisas para escrever, o que para mim não é ponto somenos, garantidamente.

Domingo X 2
Loures; 15 de junho de 2014; em algum hora e minuto da parte da tarde
D' hoje não há muito a dizer, é um domingo tosco e estúpido como quase todos. O calor continua, parece que a cidade está envolta por braseiros. |seriam bem-vindos daqui a meses, não muitos| Assim, de repente, o que me apetece registar é que fiz confusão com a minha unha esmaltada de verde, parecia um pedaço de curgete, isto quando estava a lavar os legumes para fazer a sopa.
Las Chapas; 8 de junho de 2014; 10:14; apartamento
8/06/2014. Data de par em par, descendo, desvalorizando-se. É o que parece, mas não, que o 4 está metido no número mais alto.
Sonhei que na mão esquerda não tinha verniz nenhum, havia caído todo, é que nem restos dele. Pensando bem, agora que se me afigura a imagem do sonho, o polegar e o indicador afinal tinham verniz. No sonho, telefonei, ou encontrei-me, já não sei, com a Carminho, a manicura, por modo a solucionar o infeliz caso. Não recordo o diálogo em si, está difuso, 'vejo' palavras de indignação em mim, e palavras de espanto nela.
14:06; apartamento
Cá estou. Hoje ainda não houve praia ou piscina.
Chegam cheiros. Queijo, chocolate, tinta de caneta. É incrível como este caderno cheira a tinta de caneta. O queijo está aqui ao lado, o chocolate está acolá. Que saudades dum bolinho meu. Com muitos ovos, ovos que a Paula me deu. Para eu os gastar. Que esquisito lembrar a Paula aqui, tão longe. Ah pois.
Tirei uma foto a mim mesma a escrever o 'ah pois', vai poder ler-se o que escrevi, vou publicar no blogue, pelo menos penso nisso agora, depois logo vejo, mas a ideia primordial é mostrar a caligrafia descalibrada e fazer uma comparação irrisória com aquela ideia que li no fuçasbuque que nos |quer| convence|r| de que as pessoas muito inteligentes pensam tão rápido que a mão que escreve não acompanha o pensamento. Olha eu. Pois.
20:58
Hotel Playa Real, mais concretamente: Restaurante Roberto's. Italiano. Massas e pizas, principalmente. Aguardamos que uma mesa esvazie... Oh céus, um casal abandonou agora mesmo uma mesa, são britânicos, que sotaque.
Sempre admirei a decoração deste espaço, é amplo e claro, as cortinas são brancas com motivos beges, as cadeiras são brancas com sulcos a fazer desenhos românticos. Em suma: há boniteza por aqui e também um certo desanuviamento, o qual considero bem-vindo. Ah, o chão é de granito, é portanto escuro, isso contrabalança, é importante esses desequilíbrios em qualquer lugar.

Segunda-feira ao quadrado
Lisboa; 16 de junho de 2014
Olá, boa-tarde. Pois que estou de regresso ao lugar soturno. Posto de trabalho; tarefas e merdas assim.
De manhã estive de roda do post das férias e portanto não escrevi nada d' hoje. Se alguém leu até aqui vai perceber a que me refiro, se não, se encalhou por acaso nesta linha carregada de bela e reluzente literatura, pois paciência, leia daqui para a frente e acabou a conversa.
Estive no banco e pouco depois o meu colega ligou-me a dizer que sabia que eu tinha ido ao banco. Via telemóvel, ou via internet, sei lá. Este homem persegue-me.
A senhora do banco fez cara de quem me considerou diferente. E estou. Estou um bocado bronzeada, quero eu dizer.
No banco, onde habitualmente não interajo com humanos mas sim com uma máquina, vi-me aflita para recordar o número de conta, oh céus.
Lugar da musa. Igual. Café estrondosamente bom. Hum. De manhã tinha dito ao homem do café ao lado do estaminé:
– Ó homem tu arranja-me um café de Lisboa se faz favor que eu estou cheia de saudades!
E ele arranjou.
A árvore amarela lá está, no mesmo sítio, de copa ao sol, a secar, de facto, pode ser impressão minha mas pareceu-me dum verde menos vívido, e lá estava o velhote no meu banco, um dia tiro-lhe uma foto e depois ponho uma máscara do Picasa para não se perceber quem é e espeto-a no blogue. Um dia.
A oitava árvore daquela rua continua com a mola presa numa das folhas. Fui eu que a prendi ali. Deixei um papelinho a7 com uma mensagem escrita, isto num dado dia, e, noutro dado dia, semanas após o primeiro, alguém havia arrancado o papelinho, não sei se leu a mensagem mas seguramente não a levou para casa porque o papelinho estava no chão.
Achei uma nota de cem euros no chão. Fiquei tão contente. Encontro dinheiro frequentemente, é por isso que ando sempre bem vestida e ponho perfumes bons nos pulsos e atrás das orelhas. Um dia faço como nos filmes e esguicho um pouco para o ar e meto-me debaixo da chuva de perfume de modo a cair-me em cima do cabelo. Diz que é assim que se deve fazer, é assim que vejo elas fazerem nos filmes.
Embrulhei a nota que encontrei no lenço de papel onde me tinha assoado no lugar da musa ao depois de dois espirros.
De resto, presumo que esteja tudo dito, escrito, não vale a pena falar mais acerca de quão deslocada e desfocada estou, que este dia, o do regresso de férias, é sempre estranho, e é estranho para toda a gente. Quisera eu ser diferente...? Pois. Não sou.
Marbella |iééé|; 9/06/2014;12:31
Tapas, é o que vou almoçar, portanto vou petiscar à espanhola.
Hum.
Fui ao wc. A torneira é antiquíssima |devia ter levado a máquina fotográfica|, é de latão amarelo e tem o prelator calcinado, vê-se o verdete a sair da junção e tudo. Por ser uma torneira tão bonita não aparenta desleixo, antes parece uma peça de museu, talvez comparável a uma garrafa de vinho do Porto coberta de pó. Há pot-pourri num pratinho fundo e uma toalha de bidé pende do que devia ser o dispensador de papel para enxugar as mãos.
Os donos disto parecem franceses, ele pediu licença 'excusez-moi' e perguntara 'la toilette?' quando percebeu que eu andava à procura de algo.
Hum.
Não posso comer coisas avinagradas.
Hum.
Não posso comer amendoins.
Hum.
Já idealizei como farei a reportagem blogosférica acerca das férias: intercalo a vida normal com a vida das férias, neste caso pego no modo por vezes telegráfico como escrevo no caderno |que sempre carrego quando vou de férias| e estendo as ninharias. Seja lá como for esse estender de ninharias, esse valor que acrescento a qualquer pormenor é o meu mais genuíno modo de escrever. Devo publicar esse imenso post somente na sexta-feira, 20 de junho.

Terça-feira a dobrar
Lisboa; 17 de junho de 2014
Olá, boa-tarde! Novamente a começar a escrever do dia corrente somente da parte da tarde. É que de manhã fui tirar uma radiografia às mamas... Ai perdão, fui fazer um r-x ao tórax.
Para começar enganei-me no andar, e eu que sei oh se sei que existe um laboratório por cima dum outro laboratório, mas que querem, enganei-me, tinha tirado a senhazinha e tudo, tinha esperado resignadamente e tudo. Paciência. Não é que tenha perdido dez minutos da minha vida, nada disso, tive oportunidade de ver as diferenças entre as pessoas.
» Hoje em dia as crianças levam tablets para os consultórios, os adultos brincam, e o verbo é esse, brincar, com os telemóveis. Os velhos continuam igual ao que sempre foram, falam uns com os outros, qual tecnologias qual quê, ou limitam-se a observar ousadamente, os destemidos, e a procurar manter o olhar focado no vazio, os reservados.
Quando a rececionista me fez saber que eu estava enganada meti-me pela primeira porta que encontrei. Ao sair errei a porta de novo, entrei pela que dava acesso aos cubículos onde se fazem os exames, mas rapidamente saí e subi dois lances de escadas. E então eis que encontrei um lugar vazio, avistando somente o radiologista, fui logo atendida e mais não sei o quê.
A senhora não tem mais nomes? É que aqui só constam dois: Gina Guê.
Tenho. Maria; É; Á.
Ai é Maria Gina...?
Não, Gina Maria É Á Guê.
Que idade tem...?
45.
… E cinco...?
Sim.
Fiquei com a impressão que não aparento esta idade mas não sei pense que aparento mais ou então menos...
Venha comigo.
Disse ele. Fui, de tão obediente que sou, fui, calada.
Tire os brincos, que são um pouco compridos, tire o sutiã mas pode vestir a camisola.
Achei um piadão a este pedacinho do meu dia, um piadão. 'Mas pode vestir a camisola'... Ah ah.
Depois a tortura terminou, por tortura entenda-se a extrema dificuldade que tenho em ficar sossegada quando não posso mexer-me. Vim para a sala de espera. Notei imediatamente as janelas abertas, espreitei e tive vontade de perguntar ao senhor se não havia problema de tirar fotos dali assim mas contive-me, o modo de escrever dos últimos dias não deixa espaço a fotos, portanto limito-me a dizer que vi lá ao fundo o Hotel Avenida Palace e as colunas do Teatro Dona Maria II e também vi montes de gente pela avenida abaixo e acima e cores e cores e cores.
Lisboa,; lugar costumeiro; treze e trinta e nove; desconheço a temperatura, este relógio anda assim desde as chuvas de maio. Lá à frente diz que são treze e cinquenta e cinco mas não são, talvez seja quarenta e cinco, vinte e um graus. Se há uma disparidade no horário pode haver na temperatura...? Então, pela lógica da batata, estão trinta e um graus...? Não, nada disso, o dia está embrulhado, foi embora o sol, estão com certeza vinte e um graus.
Lisboa; lugar costumeiro; dezassete e vinte e oito. Da temperatura não sei eu, não cheguei ao ponto díspar deste.
Terminei o dia a escrever o meu nome numa casca de banana »Gina Maria É Á Guê.
Fuengirola; 10/06/2014; 17:22
Tenho de fazer os meus escritos topicamente, tenho de registar as parvoíces de raspão.
«Love lift us up
Were we belong...»
(Joe Coker and Jennifer Warnes)
É a canção que está a dar na estação de Radio que esta pastelaria/gelataria emite. Radio ou cd, sei lá.
Hoje é feriado em Portugal, é o dia da Raça, como eu costumo brincar.

quarta-feira1; quarta-feira2
Lisboa; 18 de junho de 2014
Olá. Bom-dia!
Então, nada pra escrever acerca d' hoje...?
Parece que não, mas a esperança |como sempre| está no porvir.
Ora bem, já calculava que em algum momento me fosse aborrecer deste post enorme, não devido ao tamanho do dito mas porque me sinto encurralada, a minha parte criativa está a ressentir-se, normalmente não sinto vocação ou tampouco retiro prazer do 'mais do mesmo', isto quando consciente.
Estamos a meio da semana de trabalho e já estou embrenhada na rotina, conformada com o esperável.
Neste momento não sei o que escrever mais porque quero que este post contenha apenas ocorrências do dia corrente.
No lugar da musa há um livro que me encanta só de ler o título» 'Diário Azul', vejo-o de longe, portanto não alcanço o nome do autor. A chatice maior é o livro estar embrulhado em película, não posso cuscar para ver do que efetivamente trata ou conta. À partida os diários estão repletos de coisas aborrecidas mas pronto.
Diz-se por aí que não me preocupe em rabiscar as ideias no papel, numa ânsia de as não esquecer, pois o acaso e a memória farão brotar novamente o que é realmente valioso para a literatura. Vinha eu com estes pensamentos quando passo rente ao ateliê de costura. Recordei a conversa que ouvira ontem naquele mesmo lugar: 'são uns amores |as costureiras|, eu não te disse que elas são uns amores?' Devia ter continuado na costura, assim embruteço. É então que reparo como carrego a mala, parece que levo um bebé ao colo.
Refugio del Juanar; 11/06/2014; 12:42
Estou num hotel luxuoso, no meio duma montanha linda de morrer. Está um dia frio e nublado e vim dar uma volta a este lugar, o qual me tinha sido recomendado por quem mora por estas bandas. Estou no restaurante desse hotel, assim é que é, espero um prato típico: arroz caldoso com conejo de campo.
13:21
Já comi. Este prato é delicioso e reconfortante, se comido em dias chochos como este.
Há pouco, no miradouro, uma britânica ofereceu-me um chocolate Cadbury. Que fofa, como ia comer um chocolatinho e eu estava ali perto resolveu partilhar. Recusei educadamente. Ela insistiu: 'are you shore?'. Respondi um convicto 'yes', uma vez mais cheia duma educação presumivelmente esmerada. Tretas, derreteria o chocolate todo de bom grado. Avidamente.
13:45
Casal francês aqui ao lado. Estamos no bar, que chegámos cedo à brava para usar o restaurante, havia esquecido esta referência. Os franceses beberam somente uma cerveja. Estão de saída. Perdão, duas cervejas. Saíram, finalmente.
20:34; apartamento
Ora bem, que hei-de eu fazer com estes espasmos literários que aqui tenho depositado nos últimos dias...? Publicá-los no blogue...? Não publicar no blogue...? Fazer dia sim, dia não...? Estender todos os pormenores, um dia em casa |desde a chegada, claro|, um dia nas férias, sempre em ascendente...? Talvez.

quinta-feira a 12; quinta-feira a 19
Lisboa; 19 de junho de 2014
Olá, boa-tarde. É meio-dia e não sei quê. Ora bem, estou atrasada com o compromisso comigo mesma, ainda não acrescentei nada a esta porra de post.
São três e tal, largo agora o post, muito embora não pareça, pois estão mais letras aqui por baixo. É que estou cansada do meu próprio método, não tenho paciência para me arrastar mais neste assunto. O que escrevi hoje figura mais acima, noutros posts, aí estarei de volta ao meu modo espasmódico de escrever, aquele onde habitualmente me deleito. Em querendo, vão até lá.
Las Chapas; 12-06-2014; 15:59
Estou no apartamento esperando a hora de menos calor para a despedida triunfal do Mediterrâneo. E será que algum dia volverei? Sei lá.
As férias estão no fim.
Convém registar umas últimas coisinhas, antes que esqueça.
Matrículas espanholas: duas letras/4 números; 4 números/três letras. Carros velhos, o parque automóvel é dum modo geral mais velho que o nosso.
O almoço foi lagostins ou lá que era aquilo. Cozidos com muito sal durante apenas cinco minutos. Têm uma chicha tão gostosa.
A minha máquina fotográfica caiu na areia da praia, de lente pra baixo, primeiro recusou-se a abrir, depois lá se decidiu a abrir a pestana mas o zoom não funciona até ao máximo. E eu que a levantei do senhor doutor há para aí uns quinze dias com a única recomendação de ter muito cuidado com areias e pós... Vamos lá a ver.
Ia na rua quando avisto uma chave no chão, perdida por alguém. Não precisei de olhar mais que dois segundos, logo percebi que era uma chave de pontos da marca ezcurra. Eu a seiscentos quilómetros de casa, depois de seis dias na praia e no campo e o caraças, longe de tudo quanto lembra o trabalho... E é isto. Sou mesmo boa profissional.
Escrevi frases na areia da praia, há inclusive fotos. Depois o mar apagou-as. Não faz mal, o destino dessas frases já estava traçado.
/escrever é fingir certezas\
/id est: mare\
Oito e tal da noite
Oito e tal da noite mas ainda não é noite, nem pouco mais ou menos, há ainda umas duas horas de luz, os dias agora são longos.
No restaurante aqui do burgo a gente pede um café expresso e curto, numa tentativa de o aproximar da nossa pequena chávena bombástica, mas qual quê, nem aproximado, espanhol nenhum tira um café à portuguesa. Oh céus.
Ó Luís, perguntaste-me se a minha escrita tinha sido profícua nestas férias. Eh pá, foi, só por dizer que estive sempre a escrever, como costume, na minha cabeça, que andando a passear e a ver coisas, obviamente vou criar textos interiormente, mas por andar a vadiar, digamos vadiar, pois, não registo tanta coisa no papel, mas diz que as coisas valiosas regressam, que há um anjo literário ou algo assim...

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