quinta-feira, 15 de maio de 2014

Términus

Terminei mais uma leitura: 'Como Sombras em Muros', de Gilberto Pinto.
Ao início gostei muito de ler este romance, mais ou menos a meio aborreceu-me um bocado e ao fim voltei a gostar, quiçá induzida pelo desejo de ver mais uma leitura concluída, ou por saber o desfecho, sei lá. A criança e a mulher, é do que trata essencialmente este livro, duas vozes que falam alternadamente durante toda a história, as personagens quase se tocando, parecendo sempre que no final seriam a mesma pessoa... Não são. Ao menos isso, o contrário seria demasiado normal para o meu gosto.
Identifiquei-me sempre com a voz infantil, vá-se lá saber porquê...

«O Elias desliza na água à nossa frente como se fosse empurrado pelo vento. As suas penas são tão brancas e tão longas que me parecem panos brancos a secarem ao sol. Agora desvio o olhar do Elias para observar as pessoas que vão passando no jardim; faço sempre isto ao fim de algum tempo a observá-lo; o olhar que depois lanço para outro sítio vai cheio da imagem tranquila do cisne. Aprendi esta palavra antes de ontem num livro que a mamã tirou das coisas do avô – havia a fotografia de uma montanha e dizia ar tranquilo. No fim do jardim, perto da rua, há um rapaz que estende a mão a uma mulher, a mulher parece nem ver e continua a andar – é por isso que gosto de olhar para o Elias: a mulher parece-me deslizar sobre o chão e os gestos do rapaz quando se vira para o outro lado desenham curvas suaves no ar.»

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