sábado, 8 de março de 2014

Bocadinho de leitura

«Em todas as situações as mulheres têm mais motivos de dor do que os homens e sofrem com isso mais do que eles. O homem tem a sua força e o exercício do seu poder: atua, vai, ocupa-se, pensa, abarca o futuro e encontra nisso consolo. Assim sucedia com Carlos. A mulher, porém, fica, conserva-se frente a frente com o desgosto de que nada a distrai, desce até ao fundo do abismo que ela própria cavou, mede-o e muitas vezes enche-o com votos e lágrimas. Era o que se passava com Eugénia. A jovem iniciava-se no seu destino. Sentir amor, sofrer, devotar-se será sempre a norma de vida da mulher. Eugénia devia ser como todas as mulheres, menos naquilo que as encanta. A sua felicidade, comprimida como os pregos numa muralha, segundo a sublime expressão de Bossuet, não devia, um dia, encher-lhe a cova da mão. Os desgostos não se fazem esperar e, para ela, em breve chegaram, efetivamente.»

'Eugénia Grandet', Honoré de Balzac

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