quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Está na hora

De seguida pode ler-se umas ideias desconexadas que andam nos meus rascunhos há para aí um ano, as quais neste momento não julgo que sirvam para mais alguma coisa senão para plantar no blogue.

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Há um sonho que me visita recorrentemente há dez noites: alguém me instiga a dialogar e eu respondo que não gosto de dialogar, e entretanto juntam-se muitas pessoas e todas me perguntam se gosto de dialogar, como se cantassem um jogral.
Dez. Dez noites. É então que se faz luz: é dia dez!
Tapa essa luz que me faz mal. Três, é o mês. Tapa a porra da luz, pá! Não quero ver.
Quero lá saber se a vida é bela, que tolo chavão... Agora estou zangada, lembrei-me que é dia dez, portanto não me molestem. Este dia dá cabo de mim. Não me digam nada. Não é preciso dizerem nada, ou por outra: não me interessa o que dizem, não quero as vossas opiniões. E também não se justifiquem.

Eu tenho de andar sozinha. Calcorrear a cidade. Perder-me em pensamentos maus.

Eu não quero viver. E tu?!
'Eu não quero viver!'
Pintei esta frase nas ruas de Lisboa, desenhei rabiscos vermelhos numa parede suja da capital. Não à vista de toda a gente, qual quê, está numa parede baixinha, a frase escrita ali pelo meio, que eu cá sou pela subtileza, ou se é atento e observador como eu, ou então desapareçam.
Porém, ninguém respondeu. Porque é que ninguém respondeu? Sou má, sou ruim? Não me aguentas? Hã?!
Eu não quero viver num mundo onde as pessoas são felizes. Todas, menos eu. Eu não sou feliz. Sou infeliz. Insatisfeita. Inapropriada. Inconsequente. Inconstante. IN. In é o contrário do bem, do bom, do maravilhoso, e tudo isso me enraivece. Que inveja dos felizes. In, de inveja. Também é um contrário. Um contrário do que devia sentir. Qual é o contrário de inveja?

O contrário da raiva é a apatia, a qual me é necessária para apaziguar a raiva. Preciso dela. Preciso das duas.

Tenho raiva do mundo e das pessoas. Não me controlo.
Quem inventou este mundo?
Quem fez isto assim?
Porquê as contradições?
Uma pessoa sente-se só e tem medo das multidões.
Uma pessoa gosta de flores e não consegue obter um jardim viçoso.
Uma pessoa gosta de nuvens e está um sol esplendoroso.
Uma pessoa gosta de cantar e arranja doenças na traqueia, no esófago, nas cordas vocais.
Uma pessoa comunica eloquentemente e aparece-lhe um cancro na língua.
Uma pessoa gosta de escrever e arranja tendinites.
Sumamente: vê-se ruir o instrumento físico a que se atribui maior valor e a beleza não existe nos momentos em que mais precisamos; abandona-nos; deixa-nos à mercê.
Mas não percebem que esses são os prazeres que a gente pode ter?! Que porra!

Ira:
Sobeja d’ pecaminosa que escreve, tentando o tom encolerizado

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