segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Folhas

Não percebo porque não posso apanhar uma folha do chão e sentir-me uma pessoa normal.
E não percebo porque não posso agachar-me para apanhar outra folha, porque é doutra cor, desta feita em plena avenida, sem que venham carros, pois claro, e ser uma pessoa normal para as pessoas que se cruzam comigo nesse momento. Uma dessas pessoas levou choque dum pombo desvairado, fez uma careta rente ao susto, e assim se lhe desviou a atenção do meu gesto hediondo.
E não percebo porque não posso falar da árvore amarela sem me envergonhar.
E não percebo porque não posso falar da bicicleta bê de biragem sem ver esgares complacentes.
E não percebo porque me sinto estúpida, aquém, ultrajada, tudo isto porque sou assim.
E não percebo porque não posso esparramar-me em mundos que afinal até existem.
E não percebo, a sério que não percebo, já que os meus mundos efetivamente existem.
E não percebo porque tenho de usar o exagero.
E não percebo porque percebo que não sei escrever.
E não percebo porque não deixo de escrever se afinal percebo que não sei fazê-lo.
E não percebo porque não sou uma pessoa normal perante as pessoas normais.

1 comentário:

  1. Os outros é que não são normais, porque nos fazem ter vergonha de tudo

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