sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Na estação

Devia ter ido na carruagem anterior;
mal de mim ter ficado a descansar no banco de madeira;
tenho tempo
- tenho sempre tanto tempo... –
ai eu
- continuam-se-me os ais de ontem -;
uma mulher fala ininterruptamente com a completa desconhecida que é a sua companheira de banco, o banco de madeira
– assuntos: doenças dos ossos e chuvada algo inesperada e que estão todas molhadas -;
a outra olha para mim de vez em quando encolhendo ligeiramente os ombros não vá a faladora notar;
no lado oposto chega uma outra mulher, não havendo lugares vazios senta-se na pedra
– onde não é banco de madeira –
e vendo uma mancha amarela passa os dedos e leva ao nariz para cheirar
– não vá ser urina que secou e amarelou –
e mesmo assim tira um lenço de papel do bolso para limpar
– mas não consegue apagar a mancha –
e faz de conta que limpa, senta-se e olha-me com um desprezo insano.
São doidas, as três.
Não diferentes, nada disso.
Chega o comboio, as duas primeiras fundem-se com a multidão;
verifico que a terceira coxeia, se tivesse notado antes ter-lhe-ia oferecido o meu lugar no banco de madeira.

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