Eu vinha descendo o plano inclinado, se é inclinado não é plano, mas pronto, vinha descendo o passeio da fama, passeio da fama pode ser, vinha descendo e avisto um miúdo de uns dez anos deitado no chão, braços abertos, com a expressão de devoção fingida, como quem brinca de receber as boas energias do asfalto. Na altura foi o que me pareceu, agora que escrevo penso que do asfalto não nos chegam energias nenhumas, é do contacto direto com as árvores e/ou da terra, isso sim. Adiante. Eu vinha descendo, neste post desce-se muito, e vejo o puto no chão e o pai a olhá-lo complacentemente. Sim, há um pai nesta história. Complacente. Deu por mim e mudou ligeiramente a postura, vocalizou um ralhete, coisa pouca, sumido, audível apenas para mim, e o puto marimbou para o pai, já se sabe, fazendo perdurar o descanso no chão.
Este pai queria parecer preocupado e zeloso para mim, que sou mãe, não fosse eu ralhar. As mães é que ralham, são autoritárias e cruéis.
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