quarta-feira, 5 de junho de 2013

A avenida

Dona Arminda desce a avenida, titubeando. Titubeando mais do que o seu costume, devo dizer. Segue no mesmo sentido que eu, ultrapasso-a e meto-me com ela usando a piada habitual: ‘olhe que a avenida está no mesmo lugar…’ Dona Arminda não manda a cabeça para trás com o riso, não senhores, senão a titubeante ainda me cai para ali ou o caraças. Vinha sujinha no decote, como se tivesse tido um engasgo e lhe saltasse a comida da boca. Pensei avisá-la. Mas não. Dona Arminda aperalta-se muito, ‘inda ficava melindrada, há uma altura da velhice em que se mantém a consciência dos factos muito embora já não se controlem e presumo que ela esteja nesse estágio. Deixá-la seguir foi o melhor.

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