quinta-feira, 4 de abril de 2013

O bancário

Fui ao banco, uma dependência mais longe que o habitual, por onde raramente circulo. O homem que me atendeu foi extremamente atencioso, o que me baralhou a cachimónia.
E se eu estava bem,
e se eu era a titular,
e se eu era a dona Gina,
e se estava tudo bem com a minha conta.
Desatei a rir. Ai que enorme vontade de lhe dizer que na conta só preciso de dinheiro, nada mais, obrigadinha. Mas por entre o riso cingi-me à vulgar resposta:
'Sim, está tudo bem, não tenho questões, obrigada'.
Com o riso quase incontrolável e a tentativa de falar normalmente, como quem sabe o que faz e o que diz, baralhei-me mais ainda, desta feita comigo própria. Pelo meio fiz umas rubricas ilegíveis, ou menos legíveis que o costume, e quando abri a mala para colocar os talões de depósito deixei à vista os pensos higiénicos, e com a atrapalhação enfiei o fecho da mala nos fios do casaco, e puxei a manga e fiquei com fios pendurados, e fechei a mala, e olhei para o homem, e forcei-me a concluir que ele não vira nada, e despedi-me muito cordialmente e... Porra.
De seguida ocorreram dois alívios na minha existência:
a rápida constatação de que os pensos não estavam usados, que mal tem vislumbrar as pontinhas duns pacotinhos muito bem embrulhados e imaculados;
o poder bazar dali pra fora com a certeza de que não haverá lembrança da minha pessoa à posteriori.

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