Foi ontem, 27 de Abril de 2013, na Fábrica Braço de Prata, em Lisboa, edição da Pastelaria Studios Editora, vários autores, eu incluída. (Atentar no título, por favor.)
Quis o destino (caso essa existência efetivamente vigore) que fosse completamente sozinha ao evento. A sério, ninguém foi comigo, nem conhecidos nem familiares. Ninguém.
Achei que ia ser giro. A sério. Outra vez a sério, que eu cá gosto de andar sozinha e não levo a mal que não me queiram acompanhar. Ou talvez leve, vá, em alguns momentos, mas ontem não, que as razões eram plausíveis.
A viagem foi fixe. Passar por volta das oito da tarde (agora é dia às 20h) pela parte subterrânea do meu local de trabalho num sábado é qualquer coisa de fantástico. Olha a loja aqui por cima e eu por baixo dela e a loja desamparada ou libertada da minha pessoa e eu que hoje não quero saber e coiso.
Saí na estação de Metro de Cabo Ruivo. Andei pra caraças até à Fábrica. Ninguém na rua. Carros. Alcatrão. Pontes de travessia aérea. A luz extinguindo-se. Escuro debaixo das pontes. Corrida nesses lugares escuros.
(Noto agora que quando não tenho muito tempo para blogar produzo textos resumidos.)
A sério, uma vez mais a sério, tive medo. Porra que aquele percurso é solitário demais! E longe que se farta, trinta e cinco minutos de passadas rápidas, contando com corridas e tudo. Sim, cronometrei. 35.
Pelo caminho...
«Gosto do mar mas contento-me com um rio, mesmo que ao longe, mesmo que difuso, mesmo que apenas se vislumbre ou imagine a imensidão das águas.»
Chegada à Fábrica... Senti-me esquisita e verdadeiramente só. E agora faço o quê? Oh céus... Senti falta de companhia. Beberia um chá ou assim mas as mesas do bar estavam todas ocupadas. As estantes, que das outras vezes continham livros à farta estavam agora vazias, portanto não me poderia abrigar nos livros. Algures decorria uma aula de dança e no espaço contíguo à dança uma moça mexia em papelada. Sentei-me ali e refugiei-me na escrita, o que não é de todo uma novidade para mim, fiz um poema, ou uma espécie disso, sei lá..
«Ela recorta na penumbra
Escreve ou rabisca
Outros dançam aos pares
E alguém ordena:
'Troquem de par'
A música é clássica
Mandaram-me entrar,
'Pode entrar'
Ou pediram, ou aconselharam
Aquilo aflige-me
Se me meto no quarto escuro
Esbracejo e esperneio e grito
Ela recorta na penumbra
Bons olhos...»
Depois lá fui. Mas já estava a sala abarrotada, pessoas à porta, a voz de quem dirigia o evento mal se ouvia. Fiquei ali e pronto. Sentei-me ali mesmo. Ao menos estava sentadinha, mesmo que afundada num sofá, paciência.
Havia um pensamento que não me abandonava: «Eu adoro escrever, não vivo sem a escrita, mas estas partes da divulgação e andar para aqui a mostrar-me e o caraças, pá...»
Havia um pensamento que não me abandonava: «Eu adoro escrever, não vivo sem a escrita, mas estas partes da divulgação e andar para aqui a mostrar-me e o caraças, pá...»
Uma mulher jovem sentou-se ao meu lado, sorriu simpaticamente, e diz uma coisa ou outra. No minuto seguinte pergunta-me o nome. Digo-o. Ela reconhece o meu nome e anuncia o seu. Vai daí reconheço eu o dela. Do fuças. Do Facebook, ah pois é. Veio do Brasil de propósito para assistir. Muito simpática, a moça, sim senhores.
Nisto, um outro senhor aproxima-se dela e conversam um pouco, dá para perceber que se conhecem mais ou menos bem, mesmo que só através da internet. Entretanto ela levanta-se, parece que há lugares dentro da sala, e despedindo-se atenciosamente lá se vai. Fica o dito senhor comigo, diz que não é autor, não é forçoso estar lá dentro. Eu desbobino: eu sou! E começo a contar a minha história, ou seja, dos porquês de me encontrar como que retirada do evento. Mas não a termino, o homem refere logo a seguir que já foi autor em três coletâneas da Pastelaria Studios Editora, com um orgulho vivo e puro. E eu fico a olhar para ele, meia embasbacada, sem coragem de dizer que sim, eu também fui (ou sou!) autora nessas coletâneas.
Chega Olinda. Sorridente, como sempre. «Hoje descuidei-me com as horas», diz ela. Entra, afoita. Eu não. Começo a achar que o melhor é deixar-me de merdas e forçar a entrada. Como estou mais próxima da festa, ouço o meu nome. Era preciso ir lá à frente buscar os livros. Não fui, foi chamado outro nome logo de seguida, sem dar grande espaço. Hum...
Aquietei-me. Acalmei-me. «Já se vê como hei-de fazer.» Fui buscar os livros no final, quando foi feito um apelo, em caso de alguém esquecido e essas coisas, pus o braço no ar, abri caminho e lá fui eu buscar os calhamaços e o caraças. Agora estão aqui ao pé de mim, quietinhos e caladinhos, repousando.
Vim cá para fora ler. Antes de mais dediquei-me aos meus poemas e pequena biografia, estava tudo bem, tudo igual ao que eu tinha escrito. Depois, cheia de curiosidade, fui espreitar os poemas da jovem senhora que só conhecia do fuças. Gostei do seu versejar. Ela é muito espontânea, simples. Não sei explicar a poesia dela. Não sei se alguém sabe explicar a poesia de todo e qualquer poeta.
De repente um homem pergunta-me se sou coautora, talvez pelo meu interesse em ler, talvez por estar com o livro na mão. Coautora. Coautora soa-me espantosamente bem. Respondo que sim e ele pede-me um autógrafo. Anuí ao pedido com agrado e pedi-lhe que me retribuísse o gesto. Ele assim fez. Conversámos ainda um bocadinho acerca do recente lançamento do seu livro, e de como as editoras são umas filhas da mãe, mas se queremos divulgar a nossa escrita temos de aturar e essas coisas menos boas na vida de quem escreve e edita.
Pus-me a pensar que não tenho jeito para me meter com pessoas que não conheço, que me encolho com facilidade se estou no meio de muita gente. Mas se por acaso alguém se dirigir a mim, falo fluentemente, comunico sem pudor, sinto-me à vontade. E decerto foi o balcão que ajudou nesse desabrochar.
De repente um homem pergunta-me se sou coautora, talvez pelo meu interesse em ler, talvez por estar com o livro na mão. Coautora. Coautora soa-me espantosamente bem. Respondo que sim e ele pede-me um autógrafo. Anuí ao pedido com agrado e pedi-lhe que me retribuísse o gesto. Ele assim fez. Conversámos ainda um bocadinho acerca do recente lançamento do seu livro, e de como as editoras são umas filhas da mãe, mas se queremos divulgar a nossa escrita temos de aturar e essas coisas menos boas na vida de quem escreve e edita.
Pus-me a pensar que não tenho jeito para me meter com pessoas que não conheço, que me encolho com facilidade se estou no meio de muita gente. Mas se por acaso alguém se dirigir a mim, falo fluentemente, comunico sem pudor, sinto-me à vontade. E decerto foi o balcão que ajudou nesse desabrochar.
E acabou a festa. Agora é que eu sou poeta, não há volta a dar. Não é a primeira vez que participo numa antologia poética mas é que a primeira foi com um texto poético, o que é diferente.
Há comboio até lá perto...
ResponderEliminarMas não dá jeito nenhum de onde venho...
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