segunda-feira, 18 de março de 2013

A pecaminosa que escreve

*Vaidade… Inveja… Ira… Preguiça… Avareza… Gula… Luxúria…

Não tenho adiantado quase nada no novo desafio da Pastelaria Studios Editora, o qual consiste em escrever um conto sobre um dos sete pecados mortais – já para não falar do meu livrinho, e devo dizer que folgo por a dada altura lhe ter chamado 'o embrião do meu livrinho'...
Ora bem, tenho de deixar passar algum tempo, olhar para as parcas frases que registei até agora, para não as esquecer de todo. Funciono assim, a fogo lento. Não sendo o melhor sistema, sei que é esse o meu sistema de produção literária. Siga a vida.
Não estou adormecida por sobre o dever de responder ao desafio que me propus, nada disso, estou dormente, o que é diferente. Sinto-me pesada e informe, preciso delinear os temas na minha cabeça, arranjar-lhes uma forma e perceber como me relaciono com o meu lado perverso, doutra forma jamais conseguirei escrever. «Ninguém escreve sobre aquilo que desconhece», certo?
Se os pecados são algo que efetivamente existe, sou uma pecadora confessa, rendo-me a todos eles, uns mais que outros, obviamente. No pecado mora o prazer, viver de acordo com as supostas leis divinas é chato. Vamos todos portar-nos benzinho, não? Ora…

Vaidade. Sinto vaidade nos ricos filhos, orgulho-me deles amiúde. Há orgulho no que são e congratulo-me porque até aqui tenho conseguido prepará-los para a vida. Sou uma vaidosa do caraças com os meus meninos, se bem que não me exceda. Presumo.
Não me envaideço com facilidade, e agora estou a falar de mim. Não me sei expor, é a verdade. Noutro dia escrevi no blogue que 'nunca passarei de mediana a tudo quanto for expositivo'. É o resumo daquilo que sou. Todavia, gosto de me alindar, sou mulher, há vaidades sentidas somente no feminino, mas isso talvez caiba noutro pecado, não neste.

Inveja. Não sou invejosa, nunca fui, tanto se me dá que tenham um carro grande como um grande carro, quero lá eu saber disso. E troféus e essas merdas?! Ó 'migos, levem-nos todos, eu até bato palmas com entusiasmo! Vivam felizes e não me moam os cornos.
Porém, invejo o que as pessoas são ou escrevem.
Invejo o que as pessoas são. Quem manda aquele(a) saber falar tão bem e eu não? Porque não consigo decorar anedotas ou episódios hilariantes para depois fazer boa figura numa roda de amigos? Porque me interesso tanto? E porque não exploro esse interesse desmesurado posteriormente? Ou pelo contrário: porque não ajo como aquele(a) e me desligo? Porque não sou feliz como ele(a)? Ter inveja é uma chatice.
Invejo o que as pessoas escrevem. Não gosto de encontrar blogues melhores que o meu. Mais bonitos. Mais bem preparados. Mais bem escritos. Com palavras que habitualmente não uso. Piora bastante se não percebo uma palavrita ou outra e tenho de consultar um dicionário. Que porra. Merda. Quero ser a melhor escritora do universo e não consigo. Por enquanto, que o porvir contém impreterivelmente a esperança.

Ira. Até parece que nas descrições anteriores já pequei um pouquito… Iro-me com relativa facilidade. Depois bato com as portas e encafuo coisas à bruta, levando tudo à frente, numa ânsia extrema de me livrar do que me enerva. E amachuco papéis. E parto canetas; lápis. E esmurro o computador. Ai que raiva! O computador onde escrevo neste preciso momento, tem alturas em que liga somente quando lhe dou um murro bem assente na lateral direita. Liga a luzinha azul que é um mimo. E depois já posso escrever parvidades calmamente. A ira passa-me depressa, ao menos isso.

Preguiça. Indolência… Langor… Sou lenta no levantar da cama. Levo um ror de tempo a despachar-me. Tenho preguiça de trabalhar. Tenho preguiça de fazer a cama. Tenho preguiça de fazer o almoço. Tenho preguiça de levar a cadela à rua. Tenho preguiça de dizer bom-dia; boa-tarde; boa-noite. Tenho preguiça de ler. Tenho preguiça de escrever.

Avareza. Eh pá, avareza… Pois… Não peco muito por aí, não. Sou uma comerciante que nem sabe vender. E está tudo dito. Ou estaria, que vou acrescentar mais umas coisitas. Tenho para mim que a avareza é uma maldade intrinsecamente ligada ao prosperar do negócio. Os ruins de coração são os melhores negociantes. Arrecadar, arrecadar. Aforrar, aforrar, aforrar. Agora é que está tudo dito.

Gula. Avareza, não. Gula, sim. Pode parecer o mesmo pecado, só por dizer que são apetites por coisas muito diferentes.
Neste momento chupo um rebuçado el caserio, quem mo deu foi a dona Aida. É verdade. Mesmo. Tenho a boca doce, o que facilita um bocado este pedacinho de texto pecaminoso. Há pouco devorei um chocolate de leite com avelãs enquanto lia o livro do momento. Devorei-o porque sou uma besta animal, degusto sofregamente doces e afins. De manhã já me tinha deleitado com um pastelinho de feijão que o senhor Tomé preparou com o habitual esmero. Aqui sou lenta na degustação, trincando a massa estaladiça e saboreando o doce recheio, um pastelinho de feijão daquele calibre não é para engolir, é para me deliciar lenta e prazerosamente.
Sou muito gulosa. Tenho o tema facilitado, sendo assim. BB → Bem Bom.

Luxúria. Para mim este é o pecado mais avermelhado que existe, assim que soube deste desafio lembrei-me imediatamente do meu inartificioso (ou propositadamente jogado para um canto) pedacinho de luxúria, tanto que no início desta trama pecaminosa escrevi este post.
Pequeno à parte: a luxúria está ligada à gula, é uma questão de boca(s) - mulher rima com colher; comer rima com foder. (Estou a repetir-me, já deixei isto escrito algures.)
A luxúria assenta sobre o prazer carnal. Ponto.
A luxúria é escandalosa mas eu cá escancho-me na malícia, e por aí me fico, não mexo mais para não estragar, quando não, piso as marcas → sensual não é o mesmo que sexual.
O meu blogue faz prova da minha malícia, digamos que escrever maliciosamente é uma maneira de usar o ardor sensual sem as atitudes que culminam no sexo. Este quente pecado está para lá da linha que não devo transpor, e que não transponho, pois existem limites e valores definidos na minha vida. A imaginação é o que resta, sou muito forte e intensa em luxúria mas apenas no pensamento, não sei se consigo criar um conto contendo cenas de grande sensualidade, com personagens elanguescendo num fervor crescente, crescendo tanto até que... Vocês sabem. A menos que misture a minha história com a gula, numa espécie de suavizante do pecado mais fogoso de todos…

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