sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

No consultório

Sempre que chego a rececionista pergunta-me se está tudo bem e olha-me fixamente, como quem pergunta e não como quem usa essa mera questão como substituto da boa-tarde. Digo sempre que está tudo bem. Às vezes ela insiste, fixando em mim os olhos enormes, que àquela hora já se lhe nota uma maquilhagem desvanecida. Eu repito a resposta e fico a pensar se a insistência se deverá ao poder que as escadas um tudo-nada opressivas têm sobre mim e se eventualmente terei uma aparência simultaneamente afogueada e pálida. Nunca saberei, claro, e talvez seja melhor não saber. Um dia, depois da insistência que acabo de relatar, prolongando o diálogo, dizendo que sou a única a dizer que está tudo bem, mais ninguém entra ali e diz bem da própria vida. Respondi-lhe de volta: «é normal, já viu que está rodeada de pessoas doentes?» As dores tornam as pessoas infelizes.

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