terça-feira, 15 de janeiro de 2013

No auditório, aprendendo a faturar...

... Ou: de como se continua a vida desde o post anterior.

Isto é tão inclinado, oh céus! Que vácuo... Por pouco não pouso os pés na nuca das pessoas da fila de baixo.
Ao meu lado está uma mulher gorda, ao lado dela está um homem mais gordo ainda. Deve ser o pai, parecem-me donos duma daquelas pequenas empresas geridas por famílias, atravessando gerações.
Alguns comerciantes cumprimentam-se, aparentemente não se encontravam há anos. Que giro.
Fiquei de lado relativamente ao ecrã e aos oradores, não vou ver porra nenhuma... E isto é esconso que se farta!
Vou passar a chamar adquirentes aos meus clientes, é a regra.
Se agora fizesse um clique fotográfico no visor apareceriam ganchos, cabelo e slides com as palavras: fatura, faturação, iva, isenção, sujeitos passivos.
Estenógrafa, eu? Que pena não sê-lo...
'Muito obrigado pela sua atenção' no ecrã. Já acabou a palestra? Ufa!
Intervalo, agora. Eia, que zunzum, o pessoal a sair.
Daqui a nada vamos às questões colocadas pelos próprios comerciantes. Fico para ouvir, nada como ouvir debates em direto para se perceber tudo, é aí que as pessoas vão falar espontaneamente, com a linguagem corrente. Melhor ficar. Há burburinho, o espaço é do tipo abismal e está fracamente iluminado, é um tanto ou quanto aflitivo.
À entrada ofereceram-me uma capa A4 com folhas em branco, uma caneta e um prospeto contendo atividades futuras da associação, nomeadamente cursos grátis de vitrinismo e técnicas de venda. Dava jeito, dava.
(Não sei fazer montras;
não sei fazer promoções.)
O senhor que me rececionou não entendeu o segundo nome da minha empresa. É quase sempre assim, concordo que é um nome estranho para os dias de hoje; pomposo pelo lado menos bom.
Está a ficar um frio que não se pode. Tenho fome. Apalpei a minha maçã, hum...
Aqui do lado está um papel com um daqueles símbolos labirínticos que informam as coordenadas (ou lá que é), se me der a parvoeira ligo ao meu amor e envio-lhe via telemóvel o labirinto para ele vir ter comigo e salvar-me da opressão que esta porra deste lugar sinistro exerce sobre mim.
Recomeçou. Vamos lá, ouçamos debater a temática faturação atual. Pequeno à parte: sinto-me noticiosa, pejada de novas regras. Eu. Olha aí o antigo modo de escrever: facturação actual...
Foi feita uma questão importante e estranha, particularmente extensa, de difícil resposta, o senhor doutor cofiou a barba para se concentrar no desenrolar da questão, tirou e colocou os óculos uma série de vezes, até que apoia a cabeça nas mãos, exausto, no limiar da paciência. É que, convenhamos, o perguntador era chato pra caraças!
A máquina registadora morreu, nada a fazer, caros colegas.
Alô! Preciso dum contabilista para me dar mais um pouco de alento, é que estão a falar de listas, mapas e números há duas horas e eu cá sou de letras.
A bem dizer devia bazar agora mesmo para ficar com as coisinhas todas na memória, filtro quase nada ao momento. Mas não. Continuo aqui, sempre está mais quentinho do que lá fora.
O senhor doutor está tão impaciente quanto eu, enquanto responde às questões roda a caneta em cima do papel onde apontou os tópicos das ditas questões.
Último grupo de questões. Algumas destas tocam em pontos já esclarecidos. Não aguentei mas, saí à rua. Ah!... Que fresquinho. Descia a rua do Salitre enquanto falava ao telefone com o meu colega transmitindo os pontos esclarecidos. Ele referiu que gostou de ouvir a minha 'palestra'. Que bom. Hoje sei que é porque tinha tudo na cabeça, porque hoje já não tenho a informação tão precisa, nem me exprimo tão capazmente. Ainda bem que para além dos tópicos que apontei, debitando as parvoíces que se podem ler neste post, também apontei tópicos de trabalho, inclusivamente o endereço de correio eletrónico para futuras dúvidas, o qual é extremamente bem-vindo.
Sentei-me num banco de jardim da avenida da Liberdade, roendo a maçã. Achei Lisboa vazia, àquela hora (17:30, sensivelmente) seria suposto haver movimento, é coração de Lisboa. Esta cidade está muito diferente.
Tirei fotos na avenida, estão cinzentas, o dia estava a um passinho do crepúsculo. Cinzentas mas bonitas.




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