terça-feira, 23 de outubro de 2012

Telefones

O meu colega chamou-me à loja dele, que estava lá o senhor da operadora, para eu levar o meu telemóvel a ver se o caso das atualizações ficava resolvido. Fui até lá e depositei o meu (para mim demasiado sofisticado) aparelho nas mãos do homem e ele pôs-se a mexer na máquina em silêncio. Eu por mim muda fiquei. O meu colega falava animadamente ao telefone com um fornecedor.
A dona Petra aparece à porta com ar de quem vai pedir um favor. Pede, pergunta se sei mexer em telemóveis, o seu desligou-se e ela não consegue ligá-lo. Anuo e estendo a mão para o telefone jurássico da dona Petra. Ela alerta-me para o botão vermelho, costuma carregar ali mas o telefone hoje não se quer ligar, não sabe o que se passa.
Quer o código? - Pergunta ela. - Se quiser também lho dou!
O senhor da operadora continua clicando em silêncio no meu telemóvel. O meu colega continua ao telefone com o seu fornecedor. Falando alto, gesticulando.
Consigo ligar o dinossauro da dona Petra, que me dita o pin.
O senhor da operadora e o meu colega estão no mesmo estágio, ainda.
Dona Petra oferece-me os seus agradecimentos e à laia de desculpa refere a velha história: mas que maçada, para ela os telemóveis são só para ligar ou atender.
Senhor e colega: na mesma.
Rabisco umas coisas; noto o desfasamento da cena: um perito em software de telemóveis atualiza o aparelho duma cliente afastada desses saberes enquanto a mesma, parecendo perita, se dedica a ajudar alguém distante dum software obsoleto.

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