terça-feira, 30 de outubro de 2012

Nova historinha

Como não ter mais considerações sobre o evento de sábado? Logo eu?! Vamos a escrever, vá.

Um dos autores tem uma cara de escritor que é qualquer coisa de extraordinário, apresenta um semblante esgrouviado e descontraído. Fixo-me nele, queria ser assim. Quero copiá-lo, colar-me à sua postura, mas não dá.
Pensando bem, este escritor também pode ser professor de português ou fotógrafo... Até a indumentária está em conformidade com essas classes. Os acessórios, idem. Os óculos são baixos e dum colorido vibrante. Gosto dele, se ainda por cima emana simpatia daquele arzinho de maluco... Não o conheço, pois não, melhor ficar assim para não estragar a memória.

Você é o António, pergunta ela. É uma mulher de cinquenta e tal anos, de cabelo penteadinho, risco ao meio e dois ganchos apanhando as mechas que teimariam em cair se não estivessem lá aqueles ganchos ridículos.
Ele diz que não e fica muito sério. Ela olha-o e repete a pergunta, incrédula na resposta do homem. Ele olha-a, sisudo e frontal. Ela continua desconfiada mas vai à sua vida, levando o penteadinho para outro compartimento. Cinco passos depois para e regressa.
Você é o António, repete, ainda, aqui afirmando. Ele nega, inventando aborrecimento. Ela vai-se de vez.
Ao redor há um pequeno grupo de pessoas interessadas naquele episódio, mostrando sorrisos de cumplicidade para com o ‘António’, uma vez que a aparência da dita senhora não augura nada de bom.
É então que o António confessa que é o António mas não lhe apetece falar com a senhora, que mora lá no prédio mas é uma chata. Este é, portanto, um caso em que a aparência está de acordo com a realidade.

Lá à frente há um escritor que se destaca devido à envergadura e ar misterioso. Não gosto da obscuridade que parece ter a sua alma devido à expressão facial que acarreta consigo. Tenho de ler o seu conto, a ver se muda o prisma.

Não gosto daquela escritora que estava sentada na primeira fila. Tem um olhar atravessado e pela metade. Não gosto dos olhos meio abertos, esquisitos, mas não gosto dela principalmente porque sou invejosa: vi-a receber muitos aplausos e apupos.

No percurso de regresso ao meu lugar, depois de debitar publicamente as parcas palavras, um escritor acena-me e chama-me:
'Gina!'
Dirijo-me a ele e aperto-lhe a mão, ele apresenta-se:
'Sou o João.'
Era o João, que eu só conhecia do Facebook. Depois, infelizmente, não tivemos oportunidade de conversar. Fica para a próxima.

No meio da barafunda descobri uma outra cara, a duma bloguista cujo blogue leio há algum tempo, também só tinha tido acesso a uma foto mas reconheci-a imediatamente. Toquei-lhe no braço e perguntei:
'Tu és a Olinda, não és?'
Era, pois. Muito simpática e amiga. Muito bonita também. Fala que se desunha. Tão diferente de mim. Pouco importa.

Quando vi o livro, quando lhe peguei, quando o desfolhei, e principalmente quando vi a jovem – e primeira - leitora tão interessada como referi ontem, deixei a vergonha de verem e lerem e saberem o meu texto. Quando as palavras chegam ao público já não são pertença do criador.

Abaixo figura uma foto distorcida que o Luís tirou enquanto eu balbuciava as minhas palavrinhas perante a audiência. A foto não presta, mas é o que se arranja; é a recordação que há.


Lisboa, 27 de outubro de 2012

3 comentários:

  1. O pior é que acho que tenho mais conversa que beleza... Caraças da beleza que ainda não me serviu para nada.

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  2. :)

    E eu nem sei qual das duas tenho menos... :)

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